"Nada é tão nosso quanto os nossos sonhos" (Nietzsche)

FLONA - Floresta Nacional do Tapajós em Alter do Chão

Samaúma na FLONA do Tapajós, Amazônia



Oie, gente!


No post de hoje, venho compartilhar com vocês uma experiência única que precisa estar no seu roteiro de Alter do Chão: fazer uma trilha pela Floresta Amazônica! A FLONA, Floresta Nacional do Tapajós, é uma unidade de conservação federal criada em 1964. Trata-se da unidade de conservação ambiental mais visitada da Amazônia. São mais de 527 mil hectares que abrangem quatro municípios: Aveiro, Belterra, Placas e Rurópolis. 

Caminhar pela Amazônia foi uma experiência incrível. Em 10 km de trilha, pudemos ver diversas árvores imensas, cipós, formigas-de-cheiro, a temida formiga tucandeira e muita natureza intocada. A Amazônia é surpreendente e tem uma imponência impossível de ser colocada em palavras. É preciso estar lá, sentir e viver a floresta para realmente entender sua grandeza.


Sobre a FLONA do Tapajós


  • É possível chegar à FLONA por terra ou pelo rio. Eu nem pensei duas vezes: escolhi ir de barco, porque cada oportunidade de navegar pelo Tapajós é uma delícia!
  • Passeios: indico o Jailson (93) 99108-2019. Fizemos a maioria dos passeios com ele e, em todos, tivemos a sorte de ver botos. Gostei muito da sensibilidade dele em sempre reduzir a velocidade da lancha e nos avisar quando avistava os animais. Ele realmente se preocupa em proporcionar momentos especiais. Outro ponto positivo foi o valor cobrado: enquanto a maioria dos barqueiros cobra R$ 200,00 ou mais e só leva grupos com mais de 5 ou 6 pessoas, nós fizemos o passeio com apenas 4 pessoas e o Jailson manteve o mesmo valor: R$ 180,00 por pessoa;
  • A trilha pela FLONA só é permitida com o acompanhamento de um guia local. O valor do guia é de R$ 150,00, e cada guia acompanha grupos de até 5 pessoas, o que dá R$ 30,00 por pessoa;
  • Leve pelo menos 1 litro de água por pessoa. A trilha dura cerca de 3 horas até o igarapé, onde é possível se banhar e encher a garrafinha. Também leve uma fruta ou biscoito para ajudar a manter a energia durante as ~5 horas de passeio;
  • Vá ao banheiro antes de iniciar a trilha;
  • Use roupas leves, pois o calor é insuportável! Roupa de banho também é importante caso queira entrar no igarapé. Não precisa se preocupar com o sol durante a trilha — a mata é fechada e oferece sombra durante quase toda a caminhada;
  • Embora não tenhamos tido problemas com mosquitos, é recomendável levar repelente;
  • O ideal é usar um calçado adequado para trilha (tênis ou papete), mas é possível fazer o percurso ir de chinelo. Não é o mais confortável, mas também não deixe de fazer a trilha por isso;
  • Nosso guia foi o Chito, um rapaz simpático e muito conhecedor da floresta. É visível o entusiasmo dele em compartilhar saberes sobre o universo amazônico;
  • É possível se hospedar nas comunidades da FLONA ou até mesmo acampar na floresta. Caso tenha interesse, vale buscar mais informações sobre essas opções.


Flor do Cacaueiro na FLONA, Amazônia


Existem duas possibilidades de trilha na FLONA, e cada uma parte de uma comunidade diferente. A trilha da comunidade de Maguari tem cerca de 16 km (ida e volta) e leva até uma Samaúma gigante, carinhosamente chamada de "Vovozona". Estima-se que essa árvore tenha entre 900 e MIL anos! Incrível, né? Uma senhora de muito respeito. Vi em um vídeo que foram necessárias quase 30 pessoas de mãos dadas para conseguir abraçá-la. 

Essa trilha é menos conhecida, pois os passeios para a FLONA geralmente partem direto para a comunidade de Jamaraquá, onde fica a trilha mais "tradicional", digamos assim. São aproximadamente 10 km (ida e volta) e também há uma Samaúma imponente no caminho. Ela é um pouco menor que a de Maguari, mas ainda assim é uma verdadeira gigante.


Igarapé na Comunidade de Jamaraquá, FLONA do Tapajós, Amazônia.

Fizemos a trilha do Piquiá, na comunidade de Jamaraquá. O trajeto a partir de Alter do Chão leva pouco mais de 1h. Independentemente da trilha escolhida, a experiência será uma verdadeira imersão na Floresta Amazônica. E vamos combinar: caminhar pela Amazônia é algo único! 

No início, a caminhada é bem tranquila e começa pela mata secundária, onde o solo é arenoso. Chegou a cair uma chuvinha rápida (super normal por lá), mas, por sorte, o solo arenoso não empoça e nem vira lama, então seguimos sem dificuldades. Mais adiante, enfrentamos uma parte de subida. Um pouco mais cansativa, mas não chega a ser difícil. A história muda quando a trilha entra na floresta primária. O solo passa a ser argiloso e, com qualquer chuvinha, já fica lamacento e escorregadio. Como tinha chovido um pouco antes, essa parte estava bem chatinha de caminhar.


Piquiá na FLONA, Amazônia
Uma árvore de Piquiá na FLONA.


Durante a trilha, você vai se deparar com diversas espécies de plantas. Muitas ervas medicinais, árvores IMENSAS e centenárias, como a Samaúma e o Piquiá, além das famosas madeiras de lei, como o Cedro e o Jatobá. Também vai encontrar Seringueiras, Copaíbas, Castanheiras, Açaizeiros, palha Curuá, Breu Branco, Bacaba, Pupunha, Tucumã e tantas outras. Vai conhecer formigas que funcionam como repelente natural (sim, isso existe!), mas também vai ouvir falar (ou talvez até ver) a temida tucandeira, considerada a formiga com a pior picada do mundo. No final da trilha, um mergulho em um igarapé de águas cristalinas vai renovar suas energias. Vai ficar exausto por conta da caminhada, mas com a alma leve e o coração cheio de Amazônia.


Samaúma (Ceiba pentandra): na trilha do Piquiá, também tem uma imponente Samaúma — a mais visitada da região. Estima-se que ela tenha mais de 300 anos! A rainha da Amazônia impressiona pelo tamanho do tronco e pelas sapopemas basais, que formam divisões achatadas em volta do tronco e ajudam a sustentar a árvore. Os povos indígenas usavam essas raízes aéreas como instrumento de comunicação: ao batê-las, produzem um som grave e potente que pode ser ouvido a grandes distâncias. Por isso, a Samaúma é conhecida como a "comunicadora da floresta". 

Para conseguir "abraçar" essa gigante, são necessárias cerca de 20 pessoas de mãos dadas! E segundo o folclore brasileiro, é na Samaúma que vive o Curupira, o protetor da floresta.


Samaúma na FLONA do Tapajós, Amazônia


Breu Branco (Protium heptaphyllum): geralmente encontrado em matas de terra firme com solo argiloso, o Breu Branco possui uma casca que exala uma resina aromática com propriedades medicinais. Na medicina popular, é utilizado como analgésico, cicatrizante e para aliviar problemas respiratórios, como bronquite, tosse e dor de cabeça. O cheiro é delicioso, lembrando um pouco o Vick. Curiosamente, essa resina é liberada como resposta da árvore ao ataque de insetos. O Breu Branco só é encontrado em áreas onde a mata nativa está bem preservada.


Palha do Curuá (ou palha preta): essa palmeira é amplamente utilizada na construção de telhados de casas e quiosques na região, além de portas, janelas e outros elementos. É super interessante observar como eles tecem a palha manualmente.


Palha do Curuá na FLONA, Amazônia

Cipós: durante a caminhada é possível observar diferentes tipos de cipós, como o cipó escada-de-jabuti (Schnella sp.). Ele chama a atenção porque, à medida que cresce, forma camadas laterais em forma de anéis, lembrando degraus — daí o nome. Além do visual curioso, também possui propriedades medicinais e é bastante utilizado na forma de chá para tratar diabetes, infecção urinária, pedras nos rins e até hemorroidas.


Cipó Escada de Jabuti, FLONA, Amazônia

Esse é um dos queridinhos das redes sociais todo mundo quer subir nele para tirar aquela foto estilosa, haha. 

Cipó Rede de Macaco, FLONA, Amazônia

Seringueira (Hevea brasiliensis): natural da região amazônica, essa árvore foi protagonista do ciclo da borracha. Desenvolve-se em solos argilosos e áreas alagadas, como as várzeas, podendo atingir até 30 metros de altura. É na casca da Seringueira que estão as estruturas que produzem o látex — matéria-prima da borracha natural. 

Curiosidade: a planta só começa a produzir látex após os 6 anos de idade. Antigamente, o Brasil era o único produtor mundial de borracha, mas os ingleses contrabandearam sementes e cultivaram a planta no sudeste asiático, que hoje lidera a produção global.


Extração do Látex da Seringueira, FLONA, Amazônia

Seringueira, FLONA, Amazônia

Formiga tucandeira ou tocandira: originária das florestas tropicais como a Amazônia, essa é a famosa formiga utilizada por tribos indígenas no ritual de iniciação dos Sateré-Mawé. É conhecida por causar a picada mais dolorosa do mundo, cuja dor pode durar até 24 horas. Na escala de dor de Schmidt, que vai de 0 a 4, ela recebeu a classificação 4+. Imagina só! As tucandeiras são extremamente carnívoras, podendo chegar a impressionantes 3 cm de comprimento. Constroem seus ninhos subterrâneos nas bases das árvores e são atividas principalmente à noite.


Mirante: após uma longa caminhada, chegamos a um mirante em meio à floresta primária. Dali, é possível ter uma pequena noção da grandiosidade da Floresta Amazônica, com o Rio Tapajós ao fundo. Nesse ponto também fica a área de apoio para quem deseja acampar na floresta: uma estrutura simples de palha e nada mais. Contato total com a natureza.


Mirante na FLONA do Tapajós


Igarapé: esse verdadeiro oásis em meio à floresta fica na parte de mata primária — e é simplesmente sensacional! A água é cristalina e bem gelada, mas o calor intenso torna o mergulho uma experiência deliciosa e revigorante. Há dois acessos ao igarapé: um bem raso e outro com profundidade de cerca de 1,5 m. Em um dos trechos, a correnteza é mais forte e acaba te empurrando. 

A descida até o igarapé tem 1 km e é um pouco cansativa por ser bastante inclinada, mas há uma corda instalada no local que serve como corrimão para auxiliar na descida. Até esse ponto, já havíamos caminhado por cerca de 3 horas. Começamos a trilha por volta das 11h e encerramos o percurso às 16h15, quando chegamos na base da comunidade, onde foi servido nosso almoço.


Trilha para o Igarapé de Jamaraquá, FLONA, Amazônia

Igarapé de Jamaraquá, FLONA, Amazônia

Igarapé de Jamaraquá, FLONA, Amazônia

Comunidade de Jamaraquá: foi aqui que fizemos a parada para o almoço. A refeição é escolhida logo na chegada à comunidade, para que esteja pronta no retorno da trilha. Nosso grupo optou por um tambaqui, que serviu bem cinco pessoas e ainda sobrou. As guarnições são servidas à vontade, e até a jarra de suco foi reposta pela moça sem custo adicional. Atendimento excelente e comida deliciosa. O valor foi de R$ 40,00 por pessoa, mais + 15,00 da jarra de suco, que dividimos entre os cinco.


Tambaqui na Comunidade de Jamaraquá, FLONA, Amazônia


Esse foi um resumo do nosso passeio pela FLONA do Tapajós, na comunidade de Jamaraquá. A trilha durou cerca de 5 horas, contando com o tempo em que aproveitamos o banho no igarapé. A volta é mais puxada, pois é feita em uma caminhada contínua, sem paradas. Mas vale cada passo! E você, já fez alguma trilha na Amazônia? Compartilha aqui sua experiência. E se tiver alguma dúvida ou sugestão, é só deixar nos comentários aqui embaixo!


See you later!

Lana Coli!


FONTE: www.icmbio.gov.br www.portalamazonia.com www.amazonoil.com.br

3 comentários:

  1. olá, vou ter que escolher ou arapiuns ou flona. Flona parece ser legal, mas considerando que ja vou ter ido ficar 4 dias na floresta a partir de manaus será que neste caso nao seria mais "dispensavel o flona" o que acha?

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    1. Olá! Desculpe a demora. Já que você vai ter essa experiência em Manaus eu escolheria o passeio pelas praias do Arapiuns.

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Oie, seja bem-vindo (a) ao meu blog, Lana Traveler! Fique à vontade para perguntar e deixar suas sugestões. Com carinho, Lana Coli.